Mediocridade dos filmes. Esta é a razão principal. A falta de qualidade da maioria dos filmes que passam nos cinemas fazem com que me sinta frustrado quando chegam ao fim, e fique a pensar se a experiência de facto compensou o dinheiro gasto. Uma opção de camuflagem desta mediocridade é ir com os amigos e tentarmo-nos rir das cenas estúpidas do filme. O que depois na prática se passa é que não se pode (não se deve!) falar dentro da sala e portanto quando passam as ditas cenas não as podemos comentar. Quando saímos só nos lembramos de metade dessas cenas, que entretanto já não têm tanta piada e acabamos por falar de outras coisas, como se não tivéssemos ido ao cinema.
Os erros grosseiros de muitos filmes traduzem essencialmente uma falta de revisão dos mesmos e até talvez uma pressa em os lançar o mais rápido possível. Bastava exibirem o filme a uma pequena plateia antes de ser lançado no mercado, para serem detectados e corrigidos muitos erros. Erros técnicos como o microfone aparecer ou a câmara reflectida no espelho, mas também os mais graves, os do próprio argumento que acabam por definir muito do filme. O último filme que vi, after.life, é rico em erros ridículos. Por exemplo (spoiler alert), nos primeiros minutos do filme, no diálogo entre a personagem principal e o seu namorado, este diz “Ofereceram-me um emprego em Chicago e é uma oportunidade única para mim e por isso…” (plano mostra-o a tirar anel de noivado do bolso, fora do plano de visão da namorada). Namorada responde “Ó meu Deus, estás a acabar comigo?”. Ele: “Será que não podemos ter uma refeição sem discutir”. E mais umas falas absurdas, talvez a discussão mais forçada que eu já vi num filme. Uma cena que começa com a ideia de um pedido de casamento, acaba por evoluir dolorosamente para uma discussão que termina com a saída de rompante da personagem feminina, que por estar nervosa, tem um acidente de viação e morre. A partir daqui é o descalabro. Em casa, páro o DVD e vou vendo o filmes aos poucos. No cinema, estaria a contorcer-me na cadeira, a pensar se saio da sala ou se fico até ao fim para ver se acaba por compensar o bilhete. Fico sempre, raramente compensa.
Preço dos bilhetes. Os filmes fraquinhos, aliados ao preço do bilhete, fazem da maioria dos filmes uma das experiências com a pior relação qualidade-preço. Há alguns anos, li que a popularidade do cinema estava a aumentar porque era uma das formas de divertimento mais barata que se podia fazer. Actualmente, isso já não é verdade. E se optarmos por um filme 3D, a taxa extra para compensar não-sei-quê, a situação piora um pouco. Está certo que há passes para cinema, mas só em alguns e normalmente naqueles que recebem os filmes menos bons. Se o cinema se torna uma experiência de luxo, que a qualidade da obra corresponda. E porque não um regresso das “matinees” ou “double features”?
Chegam atrasados a Portugal. Quase todos os filmes estrangeiros (e quase todos os filmes são estrangeiros), chegam a Portugal com um atraso considerável em relação à data de lançamento no país de origem, nomeadamente nos EUA. É possível comprar em lojas virtuais como a Amazon, filmes em DVD que só chegam aos cinemas a Portugal passados dois ou três meses. Porquê este atraso? Não é de certeza devido ao envio dos filmes, pois podem perfeitamente ser enviados em formato digital e copiados no país a que se destinam. Nem tão pouco à tradução e legendagem, pois tal pode ser feito em meia dúzia de dias. Mais um exemplo prático: Scott Pilgrim vs. the World foi exibido no dia 27 de Julho num festival de cinema, estreia oficialmente nos EUA a 13 de Agosto mas só chega a Espanha a 10 de Dezembro, não exisitindo ainda data prevista para Portugal.
As pipocas. Apesar de fazerem parte da experiência clássica de ir ao cinema, o preço das pipocas é um absurdo, propositadamente alto para obter enormes margens de lucro. Estima-se que a diferença entre o custo de produção e o preço de venda ao público chegue aos 10.000%! Em 2002, o British Film Institute referiu-se às pipocas como “a substância mais lucrativa do planeta, mais do que a heroína e mais do que o plutónio”. O facto é que as pipocas custam menos ao cinema do que o receptáculo cartonado que preenchem. Portanto, eu continuo a comer pipocas quando vou ao cinema mas o facto de me saber roubado torna-as indigestas.
Assim sendo, são pouco os filmes que vou ver ao cinema e os que vejo são criteriosamente seleccionados. O que me tira ainda mais do sério quando não valem nada.
Bartolomeu Pessanha, com a colaboração de Braz Cubas