Hoje acordei com dor de cabeça. Daquelas latejantes que não te deixam pensar decentemente, mas que não são suficientemente fortes para te queixares sem te sentires um fracote. De facto, não me queixo e como nunca fui dotado que grande capacidade cognitiva, não é a falta de pensamento que me vai incomodar. Aliás, acordei numa cama que me é desconhecida.
"Agora é que o pensar vinha mesmo a jeito. Como vim cá parar?" pensei. Olho à volta. O papel de parede cheira a mofo e sabe a pão com bolor. Havia um espelho pendurado partido que espero não ter sido eu a partir. Toda a gente sabe que dá azar. Para grande espanto meu, está um guarda-chuva aberto do meu lado da cama e fico boquiaberto ao reparar que acima de mim flutuava uma escada. Começo a tremer. Pouso os braços na cama. É uma cama de casal. Ao meu lado estende-se um corpo de uma garota. Não respira.
"Apneia de sono" iludi-me. "Nunca mais fodo uma gorda" menti. Levanto-me da cama e nesse momento uma lufada de ar preenche os pulmões da miúda. Surpreendido, confirmo o meu diagnóstico. Visto-me rapidamente mas silencioso para não a acordar e fujo do quarto. Fui dar a uma rua que não conheço. O meu relógio avisa-me que estou atrasado para o emprego.
"Parabéns palerma" congratulo-me "é desta que perdes mesmo o teu emprego!"
Olho para o céu e o sol cega-me. Desejei ter um ataque de coração. E o desejo tornou-se realidade...
Jesus Intempéries